Ray Dalio investe em precatórios?

Atualizado em 22 de dezembro de 2020 por natalia

É muito comum ouvir comentários sobre a necessidade de diversificar os investimentos, que não é prudente colocar todos os ovos na mesma cesta. Entretanto, embora não seja uma regra geral e absoluta, existindo infinitas possibilidades de ganhar dinheiro no mercado, vamos abordar neste texto a diversificação de ativos. Assunto de necessário aprofundamento para que os investidores, principalmente os iniciantes, compreendam com exatidão o seu significado.

O que é diversificar?

Diversificar é ser responsável com seu futuro e humilde em suas convicções. O investidor é um eterno insatisfeito! Ao comprar uma ação e presenciar uma rápida valorização arrepende-se de não ter comprado mais. Ao investir em um título de renda fixa pré-fixado com vencimento de longo prazo e presenciar quedas nas taxas de juros, lamenta-se.

Assim, por mais que esteja ganhando dinheiro, é comum pensar que poderia estar ganhando mais e, às vezes, se torna ganancioso. É aí que reside o maior perigo. O investidor iniciante pensa conhecer muito do mercado e começa a tomar mais riscos, alocando maior parte de seu capital em uma classe de ativos, aumentando sua exposição ao risco. Na hipótese de alocar a maior parte em ações e houver uma queda brusca no mercado, perderá grande parte do seu capital. Caso esteja muito comprado em títulos públicos e houver um calote, perderá 100% do valor investido nessa classe de investimento.

Dito isso, é importante que você não se esqueça de algumas regras básicas. Dentre elas, a diversificação dos ativos, pois, dessa forma, conseguirá expor suas aplicações a diferentes margens de rentabilidade, liquidez e risco. Ao diversificar de forma eficiente, os ativos que performarem mal afetarão apenas uma pequena parte de sua carteira. Com isso, não será comprometida a rentabilidade como um todo, uma vez que dificilmente todos sua composição de portfólio será negativa. Lembre-se: O que vale no jogo dos investimentos é a soma final.

 

Como pensa Ray Dalio

Ray Dalio, um dos gestores de fundos mais bem sucedidos da história, ensina que para não perder dinheiro nos investimentos basta adotar a paridade de riscos!

Escrevendo desta forma até parece ser uma estratégia complexa de realizar, ainda mais vindo de um guru dos investimentos. Todavia, fique tranquilo que vamos explicar melhor como aplicá-la ao longo do texto. O maior problema dos investidores é não estabelecer um objetivo e não seguir uma estratégia vencedora com disciplina. O objetivo dessa estratégia (paridade de riscos) é fazer com que seu portfólio atue independente dos movimentos de mercado, equilibrando o risco de cada ativo. Uma carteira com várias classes de ativos é equilibrada pela volatilidade de cada um deles, resultando em retornos a longo prazo superiores a uma carteira tradicional com pouca diversificação.

É muito importante entender o conceito de diversificação adotado por Ray Dalio em sua carteira. Para ele, diversificação não é apenas a compra de diferentes empresas e/ou setores. Ou então a compra de títulos públicos de países emergentes e desenvolvidos; é mais do que isso. É mesclar várias classes de investimentos, reequilibrando anualmente para manter a seguinte proporção:

30% alocados em ações de grandes empresas;

15% investidos em títulos de médio prazo de 7 a 10 anos;

40% investidos em títulos de longo prazo de 20 a 25 anos;

7,5% em ouro;

7,5% em outras commodities.

Em conformidade com seus ensinamentos, são necessários apenas 15 ativos não relacionados para minimizar o fator de risco em até 80%. Em palestra realizada na XP Expert, o fundador da Bridgewater Associates afirmou que a epidemia do coronavírus está produzindo “um gigantesco teste de estresse”. E mais uma vez ressaltou a importância da diversificação de ativos, países e moedas para vencer também nas incertezas.

 

Exemplo prático de performance balanceada

Neste ponto do texto já foi apresentado exemplo de composição de carteira e acredito que você já está cansado de ouvir sobre a importância de diversificar. Por isso, agora será apresentado de forma prática como ocorre o equilíbrio de carteira com apenas 2 ativos valorizando e desvalorizando.

Imagine que a soma de seus ativos investidos seja de 80 mil reais, com 25% (20 mil reais) alocados no ativo A, mais arriscado, e 75% (60 mil reais) investidos no ativo B, de menor risco. Confira o comportamento dessa carteira em quatro diferentes cenários de retorno para cada ativo:

Ativo A

+16%

-16%

-16%

+16%

Ativo B

+10%

-10%

+10%

-10%

Total da carteira

11,50%

-11,50%

+3,50%

-3,50%

 

Se os dois ativos retornarem positivamente (A com 16% e B com 10%), a rentabilidade média da carteira é intermediária (11,50%). Neste caso o investidor consegue um retorno superior ao ativo menos rentável, mas inferior ao mais rentável.

Na segunda situação, quando os dois ativos têm desempenho negativo, é mais nítida a redução do risco total da carteira. O ativo A (mais arriscado), caiu 16% e o ativo B (menos arriscado), caiu 10%. Observando o balanceamento percebe-se que no total a carteira caiu mais do que o ativo B e menos do que o ativo A, uma vez que sua queda foi de 11,50%. Dessa forma, aplicando em 2 ativos, a carteira desvalorizou menos do que se o investidor tivesse aportado somente no ativo A.

Terceira situação: Ativo A negativo e ativo B positivo. O resultado foi positivo muito embora a queda % do ativo A seja superior à valorização do ativo B. Isso se deve à maior parcela do patrimônio que estava investida no ativo B. Bom observar que se o investidor tivesse alocado 100% no ativo A suas perdas seriam enormes.

Por fim, na quarta situação o retorno total foi negativo embora o ativo A tenha valorizado 16%. Importante ressaltar que, em qualquer situação, o retorno total da carteira ficou mais próximo do ativo B, uma vez que a maior parte do capital foi alocada no ativo B. Por isso é crucial verificar o peso de cada ativo e proceder com rebalanceamentos periódicos.

 

Precatórios como alternativa

Se Ray Dalio fosse brasileiro provavelmente investiria em precatórios, embora não possam ser tecnicamente conceituados como títulos públicos. Isto pois os títulos da dívida pública são, como exemplo, a Letra do Tesouro Nacional (LTN), Letra Financeira do Tesouro (LFT), Nota do Tesouro Nacional (NTN) Título da Dívida Agrária (TDA), Certificado do Tesouro Nacional (CTN), emitidos com a seguinte descrição pelo Banco Central do Brasil: “Título de responsabilidade do Tesouro Nacional, emitido para a cobertura de déficit orçamentário, exclusivamente sob a forma escritural, no SELIC”. Cumpre ressaltar que os precatórios são requisições de pagamento para que o Poder Judiciário solicite (requisite) verbas ao Poder Executivo para quitar suas obrigações decorrentes de processos judiciais perdidos pelo governo.

Considerando que 55% do portfólio deve ser investido em títulos públicos de curto e longo prazo, conforme sua estratégia de paridade de risco, mesmo optando por alocar uma parte em títulos da dívida pública e outra parte em precatórios, Ray Dalio ficaria surpreso com sua rentabilidade e segurança dos precatórios para diversificação de carteira. Uma boa estratégia seria também diversificar sua própria carteira de precatórios, adquirindo alguns federais (prazo de pagamento em até 2 anos) e outros estaduais e municipais (prazo de pagamento que pode superar os 25 anos dependendo do ente devedor).

Dessa forma, a volatilidade geral da carteira é reduzida pois o precatório é considerado um ativo não correlacionado. Ou seja, não é impactado pelo valor das ações, dólar, commodities, seja positivo ou negativo. Há sempre uma tendência de valorização constante do precatório em virtude de sua compra com desconto, diferentemente de outras classes de investimento que sobem e descem ao longo do tempo.

Desta forma, uma vez que o futuro é incerto para todos, ter um mix de investimentos é a forma mais adequada de vencer essa maratona. Lembre-se que investimento é uma corrida de longo prazo e que todos os bilionários desse meio têm cabelos brancos.

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