Atualizado em 23 de junho de 2021 por lorenna
Para resumir em apenas uma frase, o investidor de valor é aquele que busca comprar na baixa para vender na alta. Aí você pode me perguntar: mas não é isso que busca todo investidor? Embora essa seja uma ideia do senso comum, há investidores que não seguem o mesmo caminho.
Além dos investidores que compram ativos à espera de uma valorização alta, não importando seu preço atual, existem aqueles que buscam receber dividendos. Quer se aprofundar no tema? Continue a leitura!
Investidor de valor (Value Investing)
A procura pelo valor intrínseco dos ativos é o que ocupa grande parte do tempo dos investidores de valor. Nessa busca, os gestores, analistas e investidores em geral pesquisam os fatores tangíveis, como ativos físicos, fluxos de caixa, lucros, dividendos e valor empresarial. Já os bens intangíveis — talento, marca e potencial de crescimento — são valorizados em menor escala. O consenso é que, uma vez que o preço do ativo esteja abaixo de seu valor intrínseco, o investidor deve realizar a sua compra.
Pode-se dizer que é uma modalidade mais conservadora de investir já que as aquisições apenas se concretizam se o preço negociado estiver abaixo do que realmente vale, calculado segundo premissas pré-determinadas. É preciso, no entanto, estar convicto de sua posição. Afinal, no mercado financeiro, os preços dos ativos flutuam diariamente e, mesmo sabendo que um ativo vale mais do que está sendo cotado atualmente, seu preço pode cair ainda mais antes de subir.
Aliás, essa é a estratégia de investimento que grandes investidores, como Warren Buffet, aplicam.
Mas qual a relação dos investidores de valor com os precatórios?
Enquanto no mercado financeiro os analistas gastam horas e horas tentando calcular o valor intrínseco dos ativos, os precatórios possuem seu valor real disponível a todos. Não há necessidade de cálculos, nem análises profundas e complexas para alcançá-lo. O valor intrínseco do precatório é seu próprio valor líquido. Ou seja, o valor bruto descontado de honorários e tributos.
Nesse sentido, para que um investimento em precatório seja bem-sucedido, o primeiro passo é convencer seu titular a vendê-lo por um preço abaixo de seu valor intrínseco. Aí é que está uma das grandes diferenças em relação ao mercado acionário, já que a liquidez das ações é alta e sua negociação ocorre publicamente em um mercado de bolsa de valores.
No caso do investidor de precatórios, é necessária uma grande busca, além de dias de negociação para chegar a um valor que agrade tanto o vendedor quanto ao investidor. O preço a ser pago pelo ativo depende, em grande parte, da data estimada de pagamento por parte do governo.
Isso pois os prazos podem variar de 6 meses a 20 anos, dependendo do devedor, e não é possível se desfazer do ativo a qualquer momento por seu valor intrínseco. Para receber o equivalente ao valor intrínseco do ativo é preciso aguardar a quitação por parte do ente federativo responsável pelo pagamento.
Semelhanças entre os mercados
Assim como os investidores de ações, aqueles que optam pelo mercado de precatórios devem levar em conta que não basta comprar uma boa ação ou um bom crédito judicial. Também é preciso fazer a aquisição por um preço adequado. De nada adianta a empresa ter uma boa receita recorrente e estar em um mercado de grande potencial se o preço pago pela ação não corresponde ao seu valor.
Da mesma forma, não vale comprar um precatório cuja análise informe que o crédito está 100% hígido — sem a menor chance de problema — se seu titular pede um preço praticamente igual ao seu valor intrínseco.
Outra semelhança entre os mercados (o acionário e o de precatórios) é na composição do preço dos ativos. Em ambos, os preços são determinados por fatores psicológicos e técnicos e as melhores oportunidades surgem quando os donos dos ativos são pressionados a vender por alguma razão.
No mercado acionário, quando investidores alavancados recebem margins calls (exigência para que sejam oferecidas mais garantias a uma dívida) é a hora em que gestores capitalizados fazem a festa. Já no universo dos precatórios, quando seus titulares estão passando por alguma dificuldade ou urgência financeira, aí é o momento de realizar as melhores compras.
O fator psicológico afeta os dois mercados de forma igual. Basta uma simples notícia de que o governo vai atrasar os pagamentos para que diversos titulares de precatórios comecem a vender por um preço mais baixo. Para as ações, uma sensação geral de que uma classe de ativos é revolucionária e mudará o mundo (como ocorreu na bolha da internet no final dos anos 90) serve de subsídio para que os investidores passem a comprar. Isso faz com que o preço dos ativos suba sem qualquer fundamento.
Melhor forma de investir
A melhor maneira de investir e lucrar de forma duradoura e consistente é comprando ativos baratos. Contudo, somente adquirir ativos baratos não é sinônimo de garantia de lucro. Afinal, assim como os investidores de ações podem se equivocar sobre seu valor intrínseco, no caso dos precatórios podem ocorrer eventos que atrasem o pagamento e reduzam seu retorno.
Portanto, percebe-se que tanto os investidores de valor no mercado acionário quanto os investidores de precatório buscam comprar ativos por um preço menor do que valem. Em outras palavras, procuram oportunidades de adquirir R$1,00 por R$0,50. E quem é que não está em busca desses ativos?
Investidor de crescimento (Growth Investing)
Diferentemente dos investidores de valor, os investidores de crescimento procuram oportunidades de alta valorização dos ativos. Se você acompanha influencers ou blogs de investimento, provavelmente já ouviu a frase: preço não importa. O que isso significa? Continue o artigo até o fim, pois logo mais a explicação fará sentido para você.
O que os investidores de crescimento buscam são ativos que terão uma elevada valorização em seu preço nos próximos meses ou anos, não importando muito os fundamentos atuais. Ou seja, mesmo que o lucro por ação esteja baixo (P/L alto), ainda existirão interessados em comprar esses ativos. Isso pois eles acreditam que as ações continuarão se valorizar na expectativa de uma fusão ou crescimento acelerado dos lucros no futuro.
Além disso, não há, por parte dos investidores, qualquer expectativa no recebimento de dividendos. Afinal, grande parte do lucro das empresas se transforma em reinvestimento para o seu próprio crescimento. Geralmente, são adquiridas as small caps, empresas jovens e com pouco valor de mercado.
Os principais métodos utilizados pelos investidores de crescimento são o Philip Fisher e National Association of Investors Corporation (NAIC).
Teoria dos mercados eficientes
Na década de 60 o economista americano Eugene Fama desenvolveu a teoria dos mercados eficientes em sua dissertação de mestrado. Essa teoria, por sua vez, defende a premissa que se comprarmos algo pelo seu valor justo, levando em conta o risco, obteremos um retorno adequado. Para os seus adeptos não há ações caras ou baratas, uma vez que o mercado é sempre eficiente em precificar seus ativos pelo preço justo.
Os três níveis de eficiência: fraca, semi-forte e forte
De acordo com a teoria há três níveis de eficiência.
A teoria de eficiência fraca sustenta que o mercado é eficiente ao refletir as informações públicas disponíveis. Por isso, retornos passados não ajudam a prever retornos futuros.
Já ao considerar que o mercado absorve instantaneamente as notícias, a hipótese da eficiência semi-forte sugere que os investidores não conseguirão resultados acima do mercado com informações disponíveis a todos. O último nível, por sua vez, compreende os dois anteriores e insiste que o mercado absorve de imediato qualquer informação, seja pública ou privada. Com isso, nenhum investidor conseguirá, no longo prazo, retornos superiores ao mercado.
Sendo assim, investidores que confiam na teoria dos mercados eficientes costumam investir em fundos passivos que acompanham a rentabilidade de um benchmark. Há outros que contestam essa hipótese e citam como exemplo Peter Lynch ou Warren Buffet. A razão disso é que ambos tiveram retornos superiores por grandes períodos de tempo.
Os mercados ineficientes
O contraponto à teoria dos mercados eficientes é, por óbvio, o mercado ineficiente. Seus defensores acreditam gestores podem conseguir melhor rentabilidade que o benchmark com risco semelhante.
Além disso, com mercados ineficientes é possível obter retornos semelhantes ao do benchmark assumindo menores riscos. Essa parece ser uma ideia mais interessante. O sucesso do investidor deve ser medido com base na sua constância resultante de riscos controlados no longo prazo.
Em mercados de alta praticamente todos ganham dinheiro. Entretanto, o que determina os reais vencedores é a forma como eles se comportam em mercados de baixa. E isso só é verificável quando realmente ocorre, sendo remotas as chances de conseguir antecipá-lo. Como ensinado por Warren Buffet, é impossível saber quem está nadando nu ou vestido, senão quando a maré baixa.
Seja como for, considerando que leu até aqui, com certeza que você entendeu o papel do investidor de valor, bem como as diferenças entre o mercado acionário e o de precatórios. Ambos são similares, mas têm as suas peculiaridades.
Se despertamos o seu interesse por esta área, aprenda como investir em precatórios em outro artigo aqui do blog.