Atualizado em 26 de novembro de 2021 por
Em outros posts aqui do blog, já falamos sobre como a inflação pode afetar seus investimentos. Ela tem o potencial de corroer o real poder de compra da moeda. Isto é, com a mesma quantia, você já não consegue adquirir as mesmas coisas que há um ano. Pensando nisso, o investidor deve escolher investimentos que o protejam da inflação, com uma rentabilidade superior às oscilações inflacionárias. Entre as possibilidades disponíveis com esse perfil, temos o Tesouro IPCA+.
Porém, antes de investir, devemos fazer a seguinte pergunta: será que o tesouro IPCA+ protege 100% da inflação? Já adiantamos que a resposta é depende. Continue a leitura até o fim para saber mais!
Inflação no Brasil em 2021
O atual cenário inflacionário do Brasil não é nada animador. Afinal, bateu recordes seguidos de alta inflação. E ficamos atônitos a cada nova informação, pois a tendência tem sido de frequente aumento desse índice. Aliás, em setembro, foi a maior taxa em 27 anos , com uma alta superior a 10% no acumulado de 12 meses.
E não para por aí! No dia 22 de novembro, houve a 33ª elevação consecutiva da projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — principal índice que mede a inflação. A expectativa do mercado financeiro é de que, até o final de 2021, o IPCA atinja um patamar superior a 10% .
Portanto, para o investidor não ter prejuízos, é preciso escolher investimentos que tenham rentabilidade acima da inflação. Caso contrário, o retorno pode ser negativo. Assim sendo, que tal o Tesouro IPCA+?
Conhecendo um pouco mais o Tesouro IPCA+
O Tesouro IPCA+ consiste em um título público emitido pela União e disponível na plataforma do Tesouro Direto. Na prática, é uma espécie de empréstimo que o investidor faz ao governo federal. Este, por sua vez, utiliza o valor para financiar as mais variadas despesas públicas.
Funciona da seguinte maneira: o investidor compra o título público e, depois de um prazo estipulado, recebe seu dinheiro de volta com correção.
Na plataforma do Tesouro Direto, é possível encontrar dois tipos de títulos do Tesouro IPCA+: Tesouro IPCA+ (NTNB Princ) e o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTNB).
No Tesouro IPCA+ (NTNB Princ), a realização do pagamento e o desconto do Imposto de Renda estão programados para o vencimento do título. Já no Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTNB), o pagamento e o desconto do IR ocorrem a cada seis meses.
Como é a rentabilidade do Tesouro IPCA+?
A rentabilidade do Tesouro IPCA+ é híbrida, composta por taxas pós e prefixada. A parte prefixada passa a valer no momento da aplicação, enquanto a parte variável é atrelada à inflação medida pelo IPCA. Portanto, esse investimento oferece uma rentabilidade igual à variação da inflação, além de uma taxa prefixada de juros. Pode ser, por exemplo, 3% + IPCA.
E com base nas informações que trouxemos, muitos acreditam que ao investir no Tesouro IPCA+ ficarão 100% garantidos contra a inflação. Afinal, a rentabilidade desse título é superior ao IPCA, o que enseja um rendimento superior à inflação. Mas será que isso é verdade?
O que é o conceito de marcação a mercado?
Antes de fazer aplicações em qualquer investimento, é importante conhecer a fundo as opções disponíveis para não sair no prejuízo. Outro fator relevante é o significado de alguns conceitos centrais do mercado financeiro.
Assim sendo, um conceito importante para avaliar antes de investir no Tesouro IPCA+ é o de Marcação a Mercado. Dito isso, vamos fazer algumas reflexões.
Os títulos públicos ficam disponíveis por um preço específico. No caso do Tesouro IPCA+, a lógica é de que com o aumento da inflação, o preço desse título também subiria na mesma proporção. Porém, tenho que dizer a você que está ocorrendo o contrário.
No início do ano, o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045 valia R$1.528 e pagava uma taxa de 3,47% além da inflação. Já no primeiro dia de outubro de 2021, o preço desse título passou a ser de R$1.184,00, ou seja, teve uma queda superior a 22,5%.
Isso ocorreu devido ao fenômeno de Marcação a Mercado, que consiste na atualização diária dos preços de títulos de renda fixa e também em produtos de renda variável.
Como funciona a parte prefixada do Tesouro IPCA+?
A parte prefixada do Tesouro IPCA+ é composta pelos juros reais, que sofrem variações de acordo com o cenário econômico e as expectativas ao redor da taxa de juros. Se as projeções do mercado não são muito positivas, o risco de investir em títulos públicos aumenta.
Por isso, o governo deve oferecer uma rentabilidade maior, visando atrair os investidores que ficarão mais receosos por conta do aumento do risco de mercado. A partir dessa perspectiva, a rentabilidade desses ativos é alta graças à majoração do juros reais da parte prefixada.
Relação taxa e preço
A relação entre a taxa e o preço do título é inversa. Quando há um aumento na taxa de juros prefixada, há uma redução no preço do título. Isso ocorre, porque os títulos emitidos há mais tempo e com menor taxa têm uma rentabilidade reduzida em comparação aos títulos com taxas mais elevadas.
Dessa forma, por serem menos rentáveis, os títulos mais antigos são comercializados por um menor preço no mercado secundário. Isso garante maior rentabilidade aos investidores, buscando equiparar-se com rendimentos dos títulos que têm taxas mais altas.
Portanto, se no início do ano, o investidor adquiriu títulos do Tesouro IPCA+ 2045 e deseja vendê-los hoje, terá um grande prejuízo. Afinal, o título está valendo bem menos. Inclusive, essa desvalorização pode ser superior a 20%, pois a recompra desses ativos ocorre de acordo com o valor mercado. E a precificação é mais baixa para os títulos menos rentáveis.
O fenômeno de Marcação a Mercado é diário e também possui forte relação com a taxa Selic — taxa básica da economia. Nos últimos meses, para conter a inflação, a Selic vem aumentando, o que acarreta uma elevação na taxa de juros reais e consequente redução do preço dos títulos públicos sujeitos à Marcação a Mercado.
Então, o tesouro IPCA+ protege 100% da inflação?
Após essas considerações, temos a resposta para a pergunta no início do artigo. Será que o tesouro IPCA+ vai te proteger 100% da inflação? A resposta é depende. Se o investidor mantém o título até a data de vencimento, não sofrerá os efeitos da Marcação a Mercado. Isto é, receberá o valor correspondente à rentabilidade contratada no momento da aplicação.
Porém, se houver o resgate antecipado do título, a resposta será negativa. Quando se vende o título antes do vencimento, o investidor o repassará por um preço inferior ao valor da compra. E a rentabilidade desse investimento, se comparamos à inflação, poderá ser negativa.
Assim sendo, investir no Tesouro IPCA+ pode ser um mau negócio, sem proteger da inflação quando houver o resgate do título antes do vencimento.
E o investimento em precatórios, como fica?
Os investimentos em precatórios também se encaixam na rentabilidade híbrida, enquanto a parcela prefixada corresponde ao desconto na compra. E a parcela pós-fixada é atrelada ao IPCA-E, outro índice que mede a inflação. Como vantagem, tais investimentos não sofrem com o fenômeno da Marcação a Mercado, ou seja, não correm o risco de perder valor.
Se o investidor quiser vender o precatório rapidamente, o ativo pode ser vendido com um valor reduzido na tentativa de encontrar alguém que o compre em um prazo curto. Mas isso não se compara aos prejuízos da Marcação a Mercado nos preços dos títulos do Tesouro IPCA+.
Além disso, o Tesouro IPCA+ para 2045 estava pagando no início do ano IPCA+ 3,47%. Enquanto isso, os precatórios têm uma rentabilidade de cerca de 20% a.a. e podem proteger o investidor de forma integral dos efeitos da inflação.
Enfim, agora você já conhece um tipo de renda fixa que pode te proteger 100% da inflação: os precatórios. Além disso, quando se trata de investimentos, nem tudo é o que parece. Cada ativo financeiro tem as suas peculiaridades, como o conceito de Marcação a Mercado do Tesouro IPCA+ que você conheceu hoje. Então, antes investir, não deixe de se aprofundar nos temas que envolvem o mercado financeiro.
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2 pensamentos em “Por que o tesouro IPCA+ não protege 100% da inflação?”
Esta afirmação não é tão verdadeira:
“…Porém, se houver o resgate antecipado do título, a resposta será negativa. Quando se vende o título antes do vencimento, o investidor o repassará por um preço inferior ao valor da compra…”
Se o investidor decide resgatar quando a taxa fixada está maior que a taxa contratada, a rentabilidade no momento do resgate antecipado será MENOR que a rentabilidade contratada. Se a taxa no dia do resgate é MENOR o investidor pode ter ganhos na marcação a mercado inclusive que superam a inflação do período.
Olá Sr.Luciano, Espero que essa mensagem/resposta o encontre bem!
Agradecemos pelo seu comentário e gostaríamos de fornecer uma explicação mais detalhada sobre o conceito de marcação a mercado e sua relação com o Tesouro IPCA+.
Você está correto ao apontar que a marcação a mercado permite que a rentabilidade de um título varie de acordo com as condições do mercado no momento do resgate antecipado. Isso significa que:
Se a taxa de juros atual for inferior à taxa contratada no momento da compra do título, o valor de mercado do título pode ser superior ao valor de compra, resultando em ganhos para o investidor. Esses ganhos podem, inclusive, superar a inflação do período.
Se a taxa de juros atual for superior à taxa contratada no momento da compra do título, a rentabilidade no momento do resgate antecipado será menor que a rentabilidade contratada inicialmente, podendo resultar em perdas para o investidor.
Portanto, ao considerar o resgate antecipado de um título como o Tesouro IPCA+, é essencial entender como as variações das taxas de juros impactam o valor de mercado desses títulos.
No contexto do artigo mencionado, a afirmação de que “quando se vende o título antes do vencimento, o investidor o repassará por um preço inferior ao valor da compra” pode não ser verdadeira em todas as situações. Isso depende das condições de mercado no momento do resgate.
Para esclarecer aos leitores, adicionamos a seguinte nota ao artigo:
Nota de Esclarecimento: A possibilidade de ganhos ou perdas na marcação a mercado depende das condições econômicas e das taxas de juros vigentes no momento do resgate antecipado. Se a taxa de juros atual for inferior à taxa contratada, o valor de mercado do título pode ser superior ao valor de compra, resultando em ganhos para o investidor, inclusive podendo superar a inflação do período. Por outro lado, se a taxa de juros atual for superior à taxa contratada, a rentabilidade no momento do resgate antecipado será menor que a rentabilidade contratada inicialmente, podendo resultar em perdas.
Esperamos que esta explicação adicional ajude a esclarecer o conceito de marcação a mercado e como ele pode afetar os investimentos no Tesouro IPCA+.
Esperamos ter ajudado! Caso tenha mais perguntas, não hesite em nos procurar. (31) 3181-0270 / contato@mercatorio.com.br