Precatórios Sob a Perspectiva dos Grandes Mestres: Aprendendo com Graham, Buffett, Lynch, Soros, Templeton e Dalio

Atualizado em 21 de outubro de 2024 por Daniel Costa

No mundo dos investimentos, existem figuras cujas estratégias e abordagens se tornaram lendárias. Benjamin Graham, Warren Buffett, Peter Lynch, George Soros, John Templeton e Ray Dalio são nomes que ressoam como sinônimos de sucesso no investimento. Suas abordagens, embora distintas, compartilham uma sabedoria fundamental, a apreciação do valor e o compromisso com a diligência e a análise.

Mas o que aconteceria se virássemos o foco desses investidores para um nicho do mercado financeiro que é muitas vezes negligenciado e mal compreendido: o mercado de precatórios?

Precatórios são requisições emitidas pelo governo para pagar dívidas resultantes de decisões judiciais e representam um desafio e uma oportunidade única para os investidores. Eles têm a promessa de altos retornos, mas vêm com riscos distintos, incluindo a dependência de legislação e finanças governamentais.

Neste artigo, vamos explorar como cada um desses gigantes do investimento poderia, teoricamente, abordar o investimento em precatórios. Ao aplicar suas filosofias e estratégias a este mercado específico, procuramos extrair insights que poderiam iluminar novas formas de navegar neste fascinante território financeiro.

Iniciando com Benjamin Graham, cuja abordagem de investimento em valor enfatiza uma análise rigorosa e a busca por uma margem de segurança, seguido por Warren Buffett e sua estratégia de identificar o valor intrínseco dos ativos, passamos por Peter Lynch, cujo mantra de “investir no que você conhece” enfatiza a importância da familiaridade e compreensão dos ativos. Em seguida, temos George Soros, com sua perspectiva macroeconômica que nos lembra a considerar tendências globais, John Templeton, cujo princípio do “ponto de máximo pessimismo” nos incentiva a buscar oportunidades em meio à adversidade, e finalmente, chegamos à visão equilibrada de Ray Dalio, que ressalta a importância de um portfólio diversificado que possa prosperar em qualquer cenário econômico.

Todas essas estratégias, apesar de distintas, convergem para o mesmo princípio fundamental: a importância da análise cuidadosa, da compreensão do valor e de uma perspectiva de longo prazo – todos conceitos que podem ser aplicados ao investimento em precatórios.

Prepare-se para uma jornada intrigante pelo mundo dos precatórios, guiada por seis das mentes mais brilhantes do investimento. Esteja você interessado em diversificar seu portfólio, buscar novos horizontes de investimento ou simplesmente expandir sua compreensão do mundo financeiro, este artigo é um recurso valioso.

 

Benjamin Graham, muitas vezes referido como “o pai do investimento em valor”, baseou sua estratégia de investimento na busca por segurança e no princípio da “margem de segurança” ao procurar empresas cujas ações estavam sendo negociadas por menos do que seu valor intrínseco. Embora precatórios sejam diferentes dos investimentos típicos de Graham (principalmente ações e títulos), podemos utilizar seus princípios fundamentais para conceber uma estratégia de investimento em precatórios.

  1.  Análise minuciosa: Graham dedicaria uma quantidade significativa de tempo à análise do precatório. Isso incluiria uma compreensão detalhada do credor e devedor, do histórico de pagamento do devedor e de quaisquer riscos legais ou políticos envolvidos.
  2.  Cálculo do valor intrínseco: Graham calcularia o valor intrínseco do precatório, que seria o valor que ele acredita ser o valor verdadeiro do precatório, com base em sua análise.
  3.  Margem de segurança: Este é um conceito chave na estratégia de investimento de Graham. Ele só investiria no precatório se o preço de mercado estivesse significativamente abaixo do seu valor intrínseco calculado. Isso proporcionaria uma margem de segurança que poderia proteger contra imprevistos ou erros em sua análise.
  4.  Paciência: Graham era conhecido por sua paciência. Ele não se preocuparia se o mercado demorasse a reconhecer o valor que ele vê no precatório. Ele estaria disposto a esperar que o mercado corrigisse o preço.

Uma das citações mais famosas de Graham é: “No curto prazo, o mercado é uma máquina de votação, mas no longo prazo, é uma balança de pesar”. Isso significa que, no curto prazo, o preço de um precatório pode ser influenciado por uma série de fatores irracionais, mas no longo prazo, seu preço se moverá em direção a seu valor intrínseco. Portanto, um investidor que compra precatórios abaixo do valor intrínseco, como Graham faria, pode ser recompensado no longo prazo quando o preço do precatório se ajusta para refletir seu verdadeiro valor.

 

Warren Buffett, CEO da Berkshire Hathaway, segue o estilo de investimento de “value investing” popularizado por Benjamin Graham pelo seu enfoque em valor, no qual procura oportunidades de investimento subvalorizadas com sólidas perspectivas a longo prazo. Embora Buffett não seja conhecido por investir especificamente em precatórios, podemos tentar aplicar seus princípios de investimento para entender como ele abordaria este tipo de ativo.

Os precatórios são dívidas que o governo tem com empresas ou indivíduos após uma decisão judicial final. Portanto, teoricamente, representam uma receita garantida, embora o timing do pagamento possa ser incerto. Este é o tipo de oportunidade que poderia atrair um investidor focado no valor como Buffett, pois muitas vezes esses precatórios são negociados por menos do que seu valor de face devido à incerteza quanto ao tempo de pagamento.

Vamos imaginar um passo a passo de como Buffett poderia abordar o investimento em precatórios:

  1.  Análise detalhada: Buffett analisaria o precatório em detalhes, assim como faz com qualquer outro investimento. Ele buscaria entender quem é o devedor (município, estado ou União), qual é o histórico de pagamentos desse devedor e se há algum risco de moratória.
  2. Avaliação do valor justo: Buffett calcularia o valor justo do precatório. Isso poderia envolver o cálculo do valor presente dos pagamentos esperados, levando em consideração a taxa de desconto apropriada para o risco percebido.
  3.  Identificação de uma margem de segurança: Buffett busca uma margem de segurança ao fazer um investimento. Isso significa que ele quer comprar o precatório por um preço significativamente abaixo de seu valor intrínseco estimado. Essa margem de segurança fornece proteção contra imprevistos e erros na avaliação.
  4.  Paciência: Uma vez que Buffett decidiu que o precatório é um bom investimento, ele seria paciente. Ele entenderia que o pagamento pode levar tempo e estaria disposto a esperar.

Em relação à famosa citação de Buffett: “Seja temeroso quando os outros são gananciosos e seja ganancioso quando os outros são temerosos”. Essa mentalidade pode ser aplicada aos precatórios. Muitos investidores evitam precatórios devido à incerteza quanto ao tempo de pagamento. No entanto, se Buffett tiver feito sua lição de casa e sentir que a dívida é sólida, ele pode ser “ganancioso” e aproveitar a oportunidade enquanto outros estão “temerosos”.

 

Peter Lynch é famoso por sua filosofia de “investir no que você conhece”. Essa abordagem levou a alguns dos mais bem-sucedidos investimentos durante sua gestão do Fidelity Magellan Fund. Durante sua gestão, proporcionou retornos anuais médios de mais de 29% entre 1977 e 1990 ao investir em empresas em setores com os quais ele estava familiarizado e que acreditava que estavam bem posicionados para o crescimento.

Em relação aos precatórios, ainda que não sejam um investimento típico de Lynch, podemos extrapolar sua estratégia de investimento para entender como ele abordaria esse ativo.

  1.  Entendimento profundo: De acordo com sua filosofia, Lynch não investiria em precatórios a menos que entendesse completamente como funcionam. Isso implicaria em compreender as nuances do processo legal, o histórico de pagamento dos governos, e as leis recentes ou previstas que poderiam afetar o valor dos precatórios.
  2.  Análise do cenário: Lynch buscaria entender a dinâmica atual do mercado de precatórios. Isso envolveria olhar para as taxas de desconto atuais em comparação com o passado, a oferta e demanda de precatórios, e quaisquer outros fatores que possam afetar o mercado.
  3.  Avaliação do potencial de crescimento: Uma vez que Lynch se sinta confortável com seu entendimento dos precatórios, ele avaliaria o potencial de crescimento. Ele procuraria precatórios que ele acredita que estão subvalorizados e que têm um potencial de crescimento significativo.
  4.  Paciência: Lynch é conhecido por ter paciência com seus investimentos. Ele reconheceria que, embora um precatório possa ter um excelente potencial de crescimento, pode levar tempo para que esse crescimento se realize.

Uma das frases famosas de Lynch é: “O investimento mais importante que você faz é o tempo que gasta pesquisando uma empresa”. Isso se aplica diretamente ao investimento em precatórios. A natureza complexa e o risco associado aos precatórios tornam essencial dedicar tempo suficiente para entender completamente o investimento antes de comprometer o capital.

 

George Soros, fundador da Soros Fund Management, é conhecido por suas apostas macroeconômicas ousadas. A mais famosa foi contra a libra britânica em 1992, que lhe rendeu o apelido de “O homem que quebrou o Banco da Inglaterra”. Soros enfatiza a teoria da reflexividade, que sugere que os mercados são influenciados tanto por eventos racionais quanto irracionais. Além disso, é conhecido por sua audácia em tomar decisões de investimento com base em macro tendências globais, muitas vezes contrárias à visão de mercado.

Embora não haja registros públicos de Soros investindo em precatórios, sua abordagem de investimento e visão de mundo podem, ainda assim, nos dar uma perspectiva interessante de como ele poderia abordar esse tipo de investimento.

  1.  Identificando o potencial macroeconômico: Soros estaria interessado em precatórios se eles representassem uma oportunidade macroeconômica interessante. Isso poderia ser devido a fatores como mudanças na política governamental, cenários econômicos adversos que fazem com que precatórios sejam vendidos a preços baixos, ou mesmo alterações na legislação que favorecem o pagamento dessas dívidas.
  2.  Adotando uma postura contrária: Soros é conhecido por ir contra a corrente quando vê uma oportunidade. Se o mercado estiver evitando precatórios devido a medos sobre a capacidade do governo de pagar, Soros poderia enxergar isso como uma chance de comprar a um preço reduzido.
  3.  Aproveitando a volatilidade: Soros entende que a volatilidade pode criar oportunidades. Se houvesse uma volatilidade significativa no mercado de precatórios, Soros poderia tirar proveito disso para adquirir precatórios a preços favoráveis.
  4.  Estratégia de saída: Soros sempre tem um plano sobre quando e como sairá de um investimento. No caso dos precatórios, isso poderia envolver a venda após um aumento significativo no valor ou após mudanças na legislação que acelerem o pagamento dos precatórios.

Uma citação famosa de Soros é: “É muito melhor comprar uma empresa extraordinária a um preço razoável do que uma empresa razoável a um preço extraordinário”. Isso poderia ser aplicado aos precatórios, pois a qualidade do precatório (o devedor, a garantia do pagamento, a validade jurídica, etc.) é crucial. Portanto, mesmo se o preço for razoável, a qualidade do precatório é o que determinará se é ou não um bom investimento.

 

John Templeton, o pioneiro do investimento global, foi um dos primeiros a investir em pós-guerra no Japão, e suas apostas contrárias renderam retornos significativos. Era conhecido por sua estratégia de investimento baseada na procura de oportunidades de investimento em mercados globais e em áreas que outros poderiam ignorar, algo que ficou conhecido como “investimento contrarian”. Ele se destacou por encontrar valor onde outros não estavam olhando, muitas vezes em mercados internacionais emergentes.

Apesar de não existir registro de Templeton investindo especificamente em precatórios, podemos usar suas ideias de investimento para imaginar como ele poderia abordar esse tipo de investimento.

Encontrar oportunidades não convencionais: Templeton era conhecido por procurar oportunidades em lugares inesperados. Precatórios, sendo uma forma de investimento pouco convencional, poderiam chamar sua atenção se estivessem sendo negociados a um preço significativamente abaixo de seu valor intrínseco.

  1.  Avaliação minuciosa: Templeton não tomaria uma decisão de investimento sem uma avaliação completa. Ele analisaria os precatórios em detalhes, avaliando o risco de não pagamento, o histórico de pagamentos do emissor do precatório e a legalidade do precatório.
  2.  Paciência e visão de longo prazo: Uma vez que decidisse investir em precatórios, Templeton provavelmente adotaria uma visão de longo prazo, estando disposto a esperar anos, se necessário, para que o investimento atingisse seu potencial pleno.
  3.  Diversificação: Templeton acreditava fortemente na diversificação. Portanto, embora pudesse investir em precatórios, é provável que ele também mantivesse uma ampla variedade de outros investimentos para equilibrar o risco. Além disso, recomendaria o investimento em precatórios de diferentes entes federados, pois diferem em seus prazos estimados para o pagamento.

Uma das citações mais famosas de Templeton é: “A melhor hora de investir é quando você tem dinheiro”. Isso é porque ele acreditava que é impossível prever as flutuações do mercado a curto prazo. Esta citação pode ser aplicada ao investimento em precatórios, pois, embora possa haver incerteza sobre quando exatamente o precatório será pago, se o precatório for adquirido a bom preço, certamente o retorno do investidor será positivo e acima de várias outras opções no mercado.

 

Ray Dalio, o fundador da Bridgewater Associates, um dos maiores fundos de hedge do mundo, é conhecido por sua abordagem de “investimento baseada em princípios” e pela estratégia “All Weather”, que visa criar um portfólio equilibrado que possa ter bom desempenho em qualquer ambiente econômico.

Embora os precatórios não sejam um tipo de investimento típico para Dalio, podemos tentar aplicar seus princípios e estratégias para imaginar como ele abordaria esse tipo de ativo.

  1. Diversificação: Uma das pedras angulares da estratégia de Dalio é a diversificação. Ao investir em precatórios, ele provavelmente buscaria diversificar em termos de diferentes devedores, diferentes tipos de precatórios e diferentes prazos de pagamento.
  2.  Equilíbrio de riscos: Dalio é conhecido por balancear cuidadosamente os riscos em seu portfólio. No caso dos precatórios, isso poderia envolver a consideração dos riscos associados à capacidade do governo de fazer pagamentos, aos prazos de pagamento e aos riscos legais.
  3.  Análise macroeconômica: Dalio enfatiza a importância da análise macroeconômica ao tomar decisões de investimento. No caso dos precatórios, ele provavelmente consideraria fatores como a situação fiscal do governo, as tendências de taxa de juros, a possibilidade de compensação, acordos diretos e a legislação pertinente.
  4. Paciência e longo prazo: Dalio acredita em tomar uma perspectiva de longo prazo com investimentos. No caso dos precatórios, isso significaria estar disposto a esperar que os pagamentos sejam feitos, mesmo que possa levar algum tempo.

Uma das citações mais conhecidas de Dalio é: “Acredito que a principal coisa que você pode fazer para conseguir bons resultados é saber como lidar com a não-realização de seus resultados desejados”. No contexto dos precatórios, isso poderia ser interpretado como a necessidade de estar preparado para a possibilidade de que os pagamentos possam ser adiados ou que possam ocorrer mudanças na legislação que afetam o valor dos precatórios. Essa preparação poderia envolver a diversificação de investimentos, a reserva de uma margem de segurança e a manutenção de uma perspectiva de longo prazo.

 

Conclusão

Através da exploração das estratégias e filosofias de investimento de Benjamin Graham, Warren Buffett, Peter Lynch, George Soros, John Templeton e Ray Dalio, identificamos lições fundamentais que podem ser aplicadas ao investimento em precatórios. Cada um desses mestres do investimento enfatiza a importância da análise cuidadosa, da compreensão profunda do valor e de uma perspectiva de longo prazo.

Embora o investimento em precatórios possa parecer um desafio devido à sua complexidade e ao ambiente legal e econômico em que estão inseridos, as estratégias desses investidores fornecem uma estrutura útil para navegar neste terreno.

Graham e Buffett nos ensinam a procurar a margem de segurança e o valor intrínseco, Lynch nos aconselha a investir no que conhecemos, Soros nos alerta para as tendências macroeconômicas, Templeton nos encoraja a encontrar oportunidades em tempos de crise, e Dalio nos lembra a importância da diversificação e equilíbrio. Aplicando estas lições ao investimento em precatórios, os investidores podem estar melhor equipados para avaliar, entender e mitigar os riscos associados a estes ativos, enquanto exploram o potencial de retornos atrativos.

Assim, ao aplicar a sabedoria e as estratégias desses mestres do investimento, pode-se descobrir novas formas de abordar o investimento em precatórios e encontrar oportunidades únicas neste mercado fascinante. As lições desses seis investidores são não apenas úteis, mas também essenciais para quem deseja investir com sucesso em precatórios, ilustrando que, com análise cuidadosa, compreensão e paciência, pode-se encontrar valor onde outros não o veem.

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